Lei de Direitos Autorais (Direitos de Autor e Direitos Conexos)

Essas obras literárias são protegidas pela lei número 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.610-1998?OpenDocument

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Edredom


Edredom
Heleno de Paula


Quero tocar o céu da tua boca
Quero rasgar o véu do teu pudor
Quero banhar-te, como se banham os felinos,
Quero um chão de estrelas pra gente fazer amor

Quero enroscar minhas mãos por baixo dos teus cabelos
Quero percorrer teu corpo inteiro e te puxar pela nuca
Quero te ouvir falar que isso é bem gostoso
Quero entranhar-me nas tuas partes, fazer você gemer, deixando-a maluca

Quero infinitamente admirar-te
Quero em beijos arrancar-te o batom
Quero me cansar, te cansar e te marcar a carne,
Quero só resumir nesses detalhes...
O quão será melhor mais tarde embaixo do edredom.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Porta-retratos


Porta-retratos
Heleno de Paula


Queria muito poder ouvir a tua voz
Como não mais posso,
Satisfaço-me com o teu silêncio num abstrato sorriso
Tão belo... Hoje limitado em minhas mãos,
Velo nosso amor num pequeno porta-retratos
Objeto infiel, porém cuidadoso com cada inquilino.
Fidelidade nunca foi tão constante
Sua memória é volátil, assim como as vidas e os destinos.
As lembranças são substituídas de romance em romance,
Renovam-se sentimentos e poesias que me atinam.
As lágrimas de saudade sempre te lavam,
Os ventos transpassam a janela e te secam,
Acariciam o teu corpo de vidro, muito frágil,
Quebram-se os corações dos solitários que te pegam.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Oração natural


Oração natural
Heleno de Paula


O ventou soprou
A folha caiu
Pedra que rolou
Fogo sucumbiu

Natural
Naturais, são os caminhos que nos levam a paz.

Alma que sonhou
Deus te assistiu
Água que brotou
Vida que surgiu

Natural
Naturais, as escolhas, a gente é que faz.

Mas se tem sofrimento
Mais se tem solidão
Peça ao Pai do céu, pra te livrar os lamentos,
Mas que peça com fé, peça mais o teu perdão.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Vende-se


Vende-se
Heleno de Paula



Em qualquer canto desse mundo...
Perambulando com os pés descalços,
Há mais um moleque roto, entregue a toda sorte de malefícios.
Moribundo, apenas esperando uma placa de vende-se no seu corpo.
Não vale nada! Gritava outro alucinado.
Eles estão por toda parte.
Quem enxerga, não quer ver.
Quem tem ouvidos, não quer escutar.
Já saiu no jornal: “Ensaio sobre a cegueira” é uma história real, aconteceu...
Aqui não existe vergonha,
Sustentabilidade de usuários: Manufatura de drogas,
Tipo reciclagem do pó e da maconha...
Ufa! Aonde vai parar tudo isso?
A culpa é só do governo ou de toda sociedade?
Pare e pense, faça a sua parte.
Oportunidade é oportunidade.
Sacanagem é sacanagem.
Pesquise, descubra, vote e mude de verdade.
Não reclame se amanhã pagarem pouco por você.
Pense nisso! Não é mera bobagem.

domingo, 10 de junho de 2012

Fruto devasso


Fruto devasso
Heleno de Paula


Deite-se sobre o solo libidinoso
Meu corpo é o chão que te espera
Viril campo de plantio pecaminoso
Rego a ti com gozo semente púbere,
Sou relva excitante na primavera.

Deixe-me tocar seus anseios
Desvendar os desejos
Esburgar-te mulher impudente,
Satisfazer a sede do teu colo com meus lábios
Sentir a pura sensualidade de sabor indecente.

Fruto devasso amadurecido
Encarnado promíscuo, cor que alucina os olhos de prazer,
Não contidos, deliramos ensandecidos,
Escorre o mel da volúpia,
Espalha-se a seiva-sêmen do querer.






sexta-feira, 8 de junho de 2012

Difícil é suportar a saudade


Difícil é suportar a saudade
Heleno de Paula  
       

 A brisa noturna adentrava meu quarto.
 As rosas brancas dispostas na janela lacrimejavam gotas de orvalho, agradecidas pelo findar de mais um dia.
 Acostado a cama, pronto para dormir, tateei a cabeceira na penumbra do âmbito. Alcancei um dos livros que a compunha, tomei-o e me pus a ler. Folhei-o despretensiosamente, queria apenas entreter minhas retinas, fadigadas por observar as nossas mazelas humanas. De repente em meio às páginas, encontrei uma fotografia que me causara grande comoção.
Tratava-se de uma foto da minha doce avozinha. Apesar de estática aos olhos, aquela imagem ganhou vida em meu pensamento. Intuído por boas lembranças, esbocei um leve sorriso. Senti-me acalentado nesse momento.
 Meu corpo enfim repousara. Ao adormecer, minha alma entusiasmada com tal sensação, rumou ao mundo dos sonhos, em busca de uma plausível explicação pelo fato ocorrido. Logo na chegada, a resposta foi dada. Fui recebido por aquela que quando encarnada, dedicou-se a zelar por mim, minha amada vozinha. Não chorei, simplesmente corri ao encontro de seus braços, já não mais frágeis, porém ainda muito delicados. Ao olhar teu semblante iluminado, abri um largo e quase eterno sorriso. O interessante é que não foi preciso dirigir uma só palavra, tudo estava descrito naqueles gestos, a mais pura forma de amor estava ali contida. Abraçamo-nos longamente, nesse instante uma enorme fonte de energia transmutou todo o ambiente.
 Era o alvorecer me despertando. Levantei, contemplei o céu e conversei com Deus. Assim como as flores, agradeci por mais um dia, principalmente por ter podido enxergar e ouvir de outra maneira, através da alma. Descobri que todo e qualquer sofrimento se faz necessário para instrui-la na escola divina que é a própria vida.
 Com esse turbilhão de pensamentos e sentimentos, percebi o quão é importante fazer o bem e estar bem consigo mesmo.   Quase que instantaneamente essa frase me veio a cabeça: Eu sou o reflexo da alma, sou a sua própria expressão.
Esse breve e belo resumo explicara algumas dúvidas que surgira quando acordei. Eu não sonhei. Eu estive lá.   Difícil é suportar a saudade.  
      

domingo, 3 de junho de 2012

Loucura


Loucura
Heleno de Paula


Por que me atormentas?
O que ainda desejas?
Já me bastam os pesadelos com o pranto da tua loucura.
Deixe-me.
Pensas que sabe algo de mim?
Lave a tua boca,
Não consegue nem enxergar a tua triste realidade.
Insana, em tua saliva espumada com a raiva,
Eu molho a ponta da minha pena,
E faço um poema pesado de rancor, dor e amargura.
Não assino, pois simplesmente escrevo o que a tua própria alma dita.
Mal dita, é tão pobre de espírito que não sabe expressar-se.
É um dom quase negado, renegada em apuros,
Salve-se agora! Tens uma eternidade pela frente,
Porém quanto antes, menos tortuoso será o teu caminho.
Lama, pedra, fogo, lodo e tua carne podre. Tudo igual.
Assim como os teus comparsas sombrios,
Corra...
Lave-se...
Deixe escorrer toda essa maldade no ralo fétido no vale do desespero.
Resgate-se...
Pois ninguém o fará por você.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...