Lei de Direitos Autorais (Direitos de Autor e Direitos Conexos)

Essas obras literárias são protegidas pela lei número 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.610-1998?OpenDocument

domingo, 10 de junho de 2012

Fruto devasso


Fruto devasso
Heleno de Paula


Deite-se sobre o solo libidinoso
Meu corpo é o chão que te espera
Viril campo de plantio pecaminoso
Rego a ti com gozo semente púbere,
Sou relva excitante na primavera.

Deixe-me tocar seus anseios
Desvendar os desejos
Esburgar-te mulher impudente,
Satisfazer a sede do teu colo com meus lábios
Sentir a pura sensualidade de sabor indecente.

Fruto devasso amadurecido
Encarnado promíscuo, cor que alucina os olhos de prazer,
Não contidos, deliramos ensandecidos,
Escorre o mel da volúpia,
Espalha-se a seiva-sêmen do querer.






sexta-feira, 8 de junho de 2012

Difícil é suportar a saudade


Difícil é suportar a saudade
Heleno de Paula  
       

 A brisa noturna adentrava meu quarto.
 As rosas brancas dispostas na janela lacrimejavam gotas de orvalho, agradecidas pelo findar de mais um dia.
 Acostado a cama, pronto para dormir, tateei a cabeceira na penumbra do âmbito. Alcancei um dos livros que a compunha, tomei-o e me pus a ler. Folhei-o despretensiosamente, queria apenas entreter minhas retinas, fadigadas por observar as nossas mazelas humanas. De repente em meio às páginas, encontrei uma fotografia que me causara grande comoção.
Tratava-se de uma foto da minha doce avozinha. Apesar de estática aos olhos, aquela imagem ganhou vida em meu pensamento. Intuído por boas lembranças, esbocei um leve sorriso. Senti-me acalentado nesse momento.
 Meu corpo enfim repousara. Ao adormecer, minha alma entusiasmada com tal sensação, rumou ao mundo dos sonhos, em busca de uma plausível explicação pelo fato ocorrido. Logo na chegada, a resposta foi dada. Fui recebido por aquela que quando encarnada, dedicou-se a zelar por mim, minha amada vozinha. Não chorei, simplesmente corri ao encontro de seus braços, já não mais frágeis, porém ainda muito delicados. Ao olhar teu semblante iluminado, abri um largo e quase eterno sorriso. O interessante é que não foi preciso dirigir uma só palavra, tudo estava descrito naqueles gestos, a mais pura forma de amor estava ali contida. Abraçamo-nos longamente, nesse instante uma enorme fonte de energia transmutou todo o ambiente.
 Era o alvorecer me despertando. Levantei, contemplei o céu e conversei com Deus. Assim como as flores, agradeci por mais um dia, principalmente por ter podido enxergar e ouvir de outra maneira, através da alma. Descobri que todo e qualquer sofrimento se faz necessário para instrui-la na escola divina que é a própria vida.
 Com esse turbilhão de pensamentos e sentimentos, percebi o quão é importante fazer o bem e estar bem consigo mesmo.   Quase que instantaneamente essa frase me veio a cabeça: Eu sou o reflexo da alma, sou a sua própria expressão.
Esse breve e belo resumo explicara algumas dúvidas que surgira quando acordei. Eu não sonhei. Eu estive lá.   Difícil é suportar a saudade.  
      

domingo, 3 de junho de 2012

Loucura


Loucura
Heleno de Paula


Por que me atormentas?
O que ainda desejas?
Já me bastam os pesadelos com o pranto da tua loucura.
Deixe-me.
Pensas que sabe algo de mim?
Lave a tua boca,
Não consegue nem enxergar a tua triste realidade.
Insana, em tua saliva espumada com a raiva,
Eu molho a ponta da minha pena,
E faço um poema pesado de rancor, dor e amargura.
Não assino, pois simplesmente escrevo o que a tua própria alma dita.
Mal dita, é tão pobre de espírito que não sabe expressar-se.
É um dom quase negado, renegada em apuros,
Salve-se agora! Tens uma eternidade pela frente,
Porém quanto antes, menos tortuoso será o teu caminho.
Lama, pedra, fogo, lodo e tua carne podre. Tudo igual.
Assim como os teus comparsas sombrios,
Corra...
Lave-se...
Deixe escorrer toda essa maldade no ralo fétido no vale do desespero.
Resgate-se...
Pois ninguém o fará por você.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fêmea fatal


Fêmea fatal
Heleno de Paula



Apesar de confuso, não temo mais a tua chegada.
A observo atentamente, me preparo para receber o teu bote certeiro.
Me entrego por inteiro. Rendo-me uma vez mais a ilusão da droga que embriaga.
Perco-me por esse teu jeito volátil, é mal vinda toda essa tua loucura.
A fera instável que jamais adormece, reaparece,
Insaciável à procura da caça teu libido fulgura.
O prazer escorre da língua entre os dentes,
Lubrifica todo o corpo, exalando um olor excitante,
Ludibria o desejo dos inocentes,
O escarnecer das feições pós-gozo é instigante.
A fêmea fatal, envaidecida vira-se, geme e suspira.
Teu olhar felino, penetrante, punge o peito de mais uma presa.
Sangra o amor dilacerado, espalha-se a emoção assassina,
A chama ardente finalmente está acesa.
Queima, arranca as vestes, faz suar as carnes desnudas.
Expele a paixão, esse veneno tão contraditório e tão fascinante.
Pra uns a própria morte, pra outros a cura, após inocular tal sentimento conflitante.
Assim as vidas anoitecem, padecem em teu colo, entregues a toda má sorte.
Apaga do coração e da mente as íntimas lembranças.
Teu cio interminável vai buscar outras vítimas do teu dote.
Por mais um momento a tua luxúria me mancha.




segunda-feira, 28 de maio de 2012

Siga em paz...


Siga em paz...
Heleno de Paula


A alma nunca descansa,
Despe-se do corpo enquanto ele dorme.

Só leva consigo o pão da esperança
E o vinho do amor por quem ela sofre.

Viaja por mundos que a razão desconhece,
Depura-se e regressa como sonhos, lembranças.

A pureza criança é o que prevalece
Sentimento primor, onde a luz sempre alcança.

Seja em prova de dor, seja a missão qual for...
Conduza bem livre-arbítrio, faz merecer a bonança.

A vida em virtudes o agradecerá sem fulgurar desvario,
Justiça, fortaleza, prudência e temperança.

Um destino sóbrio se fará recompensa,
É o ciclo a renovar-se feito nascente de rio.

Siga em paz... Não temas nem mais o frio,
Além do horizonte um sorriso te espera.

Reconhecerás o verdadeiro amigo,
Resplandecerás numa perene primavera.
 





domingo, 20 de maio de 2012

Lenço marrom


Lenço marrom

Heleno de Paula


Revendo esta foto,
Recordei do teu lenço marrom na cabeça,
Do meu mundo que era outro,
Dos teus conselhos e esporros,
Das alegrias e das poucas tristezas.
Que saudade daquela vila!
Vila tão viva em sentimento.
Vila do Engenho Novo,
Assim como os meus momentos...
Pueril coração aventureiro,
Controverso as artimanhas de menino,
Singelo, despido de maldades,
Descamisado com os pés descalços...
Moleque apenas. Verdadeiro.
Lúdica fase da vida,
Genitora de valores, mestra das faculdades...
Meu espelho era o teu destino,
Onde foi dado o pontapé inicial...
Aprendizado do bem e do saber,
Virtuoso currículo entre as adversidades.
Eu pensava...
Como eu pensava...
De onde vinha tanta sabedoria?
Dos convívios, dos livros, de outras vidas...
E o equilíbrio?
De onde vinha toda aquela força? Deidade?
Qual era tua fonte de energia?
Se cada dia era uma guerra,
Como saia sempre incólume?
Minhas dúvidas eram apenas detalhes.
Eu, a criança. Tu, a fortaleza.
Ele, a esperança. Nós, belas lembranças.
Vós, vossa vontade.Eles, que assim seja...
Seus sobrinhos, também seus filhos.
Nossa família, nossa riqueza.





 







quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mar de Amália


Homenagem a Amália Rodrigues.

 

Mar de Amália

Heleno de Paula



Hoje eu chorei quando ouvi um triste fado,
Reportei as lembranças à gente da minha terra lusa.
Mergulhei na doce loucura do meu passado
E aportei na melodia da eterna musa.

Mar de Amália em litoral Alentejano,
Que inspiraram minhas paixões por esses anos.
Confesso, “Ai Mouraria” em teus braços novamente.

Meus olhos verdes, como duas luzes se iluminaram,
Ao te ver abancada na tendinha na primavera.
Tuas canções tão sublimes aliviaram,
O fardo das penas que um dia alguém me dera.

Quando passei por você vi sentimento,
Na troca de olhares me perdi em teu sorriso.
Meu coração de estranha forma alterou seu batimento,
O avassalador primeiro encontro foi conciso.

Era eu apenas um marujo poeta do oceano,
Em terra firme, admirador das rubras sardinheiras,
Que Deus me perdoe! Pois vou chorar todo meu pranto.
Sabe-se lá quando encontrarei outra rainha verdadeira.



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Inesquecível


Inesquecível
Heleno de Paula


Hoje ao acordar, não sei bem dizer, não sei nem o porquê, está até difícil de poder entender, pra uns realmente será incompreensível e não saberei explicar.
Mas hoje ao acordar, eu pensei em você, pensei com todo o meu carinho, foi a maior alegria, um enorme prazer, é impossível de se mensurar. Até sorri sabia? É... Foi de surpreender. Sorri simplesmente por lembrar-me de como é lindo sonhar, de como era bom ter você, de como é eterno o amar.
Recorda-se de quando a paixão despertou-se?
Foi tudo tão rápido, logo transformado em amor.
Precoce? Talvez.
Era tudo tão puro, que a razão comparada à emoção, era como a gente, o juízo ainda era um menor de idade.
E esse mesmo sentimento que nos incendiou, ficou sem controle, sem equilíbrio e causou a nossa separação. Findou-se apenas um capítulo de nossas vidas na realidade.
Desde lá crescemos bastante, amadurecemos sem dúvidas.
Calcular certas atitudes fez-se necessário durante todo esse tempo, para colhermos promissores resultados. Claro que nem tudo correu do jeito que queríamos, mas quando algo dava errado, era apenas por um momento e pouco a pouco foi se formando a nossa identidade.
Não obtive notícias suas, nem estou lamentando esse meu pensamento, tampouco acredito que você queira saber sobre como vai a minha vida, se eu vivo aventuras... O que já não me causa tanto desapontamento.
O simples fato é que hoje ao acordar pensei em você.
Refleti sobre como a vida é imprevisível, de como cada pessoa é inconfundível, que certas coisas realmente não se apagam só por querer.
Hoje ao acordar pensei em você, primeiro amor inesquecível, com o mais belo sorriso do amanhecer. 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Alma tatuada


Alma tatuada
Heleno de Paula

          
Assim como o teu corpo marcado,
Sua alma ficou tatuada em meu coração.
Sinal que te mostra tão eloquente,
Que mesmo distante a torna presente,
Como o fogo e a água, o céu e o meu chão.
Passado o tempo, a vida seguiu...
Trouxe uma nova paixão e a dor sucumbiu,
Mas a poesia que hoje vive em mim,
Prefere o passado, o lamento do fim.
E quem me escutar, pode até rir ou chorar...
Dizer que tudo isso é mera loucura,
Que pensar em dissabor já não tem cabimento,
Mas o que escrevo expele o meu sentimento,
Remedia as lembranças, se transforma em cura.
Há um ditado que se faz valer nesse exato momento:
Não se vive um grande amor se não houver sofrimento,
Não existem doces momentos se não houver amargura.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

"Liberte-se da escravidão mental..."


"Emancipate yourself from mental slavery..."
“Liberte-se da escravidão mental...”.
Por Heleno de Paula


Liberte o pensamento que é ardente
Faça jus ao livre-arbítrio da vivalma
Viva mais, mas que se viva intensamente,
Seja o ousado colo quente que me acalma.
Embriague de paixão essa corrente,
E o escravo se tornará senhor da causa
A consciência vai dormir tranquilamente
E vai sonhar...
Libido voo entre as asas.



quinta-feira, 3 de maio de 2012

O palhaço


O palhaço
Heleno de Paula


Findava mais um espetáculo,
Como ficava triste o palhaço à meia luz do picadeiro
Respirava o ar profundamente,
E saía de cena se mostrando verdadeiro.
Era mais que sincero por trás das lentes
Limpava a face, alma e corpo por inteiro,
E sem as tintas, sem as roupas, sem ser sorridente,
Enxugava as lágrimas se olhando em frente ao espelho.
Pobre imagem que refletia a realidade,
Que maquiada sempre aliviava o desespero,
De andar e andar, de cidade em cidade,
Sem encontrar uma paixão, o amor primeiro.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Convite ao prazer


Convite ao prazer

Heleno de Paula


Ontem a noite foi intensa, assim como o desejo em nos querer.
Teus dentes cerravam meus lábios, olhos fechados por carícias nas partes,
O cheiro exalado denunciava nossos delírios de prazer.
Tua carne nua e frágil, mas despudorada,
Chamava-me mais e mais, sem nada a temer.
Pés, mãos e marcas nos dorsos,
É sempre assim enquanto eu tenho você.
Excitei meu pensamento esta manhã ao lembrar de detalhes.
E por falar em luxúria, hoje mais tarde, o que vai fazer?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Literatura de Cordel - A Flor de Laranjeira e o Sabiá


Literatura de Cordel
A Flor de Laranjeira e o Sabiá
Heleno de Paula


Foi sob a sombra da mais linda laranjeira,
que ouvi um gorjeio e vi você que me pousou.
Acostumada com a sonata derradeira,
me encantei com o canto novo que ecoou.

Em tuas asas me trouxestes alegria,
e foram assim todas manhãs que aqui chegou.
Vivenciei a liberdade e a harmonia,
a natureza é a perfeição que Deus criou.

Eu que enxugava o pranto orvalho em poesia,
agora seco cada verso em teu amor.
Oh! Cantador, Sabiá sei que um dia,
não voltas mais, vás buscar a outra flor.

Lembrarei teu canto, a tão sublime melodia,
e ao poeta inspirarei um verso em dor. 
Triste canção do nosso encontro, que ironia!
Alçou teu voo e ao partir me desfolhou.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Por falar em complexidade...


Por falar em complexidade...
Heleno de Paula


Fui embriagado pela seiva da vida, o que me deixou sóbrio à realidade do momento.
Complexidade é tornar tênue o viver, sem reconhecer e deter seu algoz.
Saber não é o mesmo que fazer. Assim como o querer não se torna poder quando o pensamento é o seu verdadeiro atroz. Relutar com a própria natureza com ímpeto, é sacrificar a alma, é suicidar-se de dentro pra fora, nada adianta martirizar o corpo com os desânimos iminentes, pois são apenas reflexos do que você fez na vida. Seja a causa e não consequência, a carne perece rapidamente sem a consciência perene. Eminente e salutar é prescrever positivismo ao seu Eu, as vicissitudes extirpam-se, o estado volúvel se aquieta, a paz se aproxima e a razão se entrelaça com a emoção que se desperta. Necessitamos nos fazer e nos sentir presentes no mundo, mas acima de tudo amar com sabedoria, para que a nossa caminhada seja mais branda, mas sem esquecermo-nos a importância de conhecer as dificuldades, admitir os erros, nos desculpar e corrigi-los, saber que temos limitações, porém sem se deixar limitar pelos outros. Se conheça. Pense. Viva sem comparação. Alimente-se de compaixão. Ame sem moderação.  
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