Lá da Portela
Heleno de Paula
Amor desses de uma noite é
bom só no carnaval,
Depois já não faz tão bem,
machuca feito açoite,
Daí já não é tão mal ter um
amor convencional.
Meu peito quando clama
alguém, é sinal que ele quer sossegar,
É o motivo da razão que
lhe convém, de durante o ano não querer se maltratar.
Num romance eu me mostro
maduro e verdadeiro,
Faço de tudo o tempo todo,
só pra agradar.
Mas tudo corre apuro, pois
é chegado Fevereiro,
Apodreço, faço das ruas o meu
novo lar.
Só volto Quarta-Feira, sujo
em cinzas, venho cantando... Lá, laiá, laiá...
Finjo e digo que nada
aconteceu, pra quem sempre me pergunta: - Que mulata era aquela?
Falo que desconheço esse
assunto, e para os insistentes, eu me exalto e grito: - Nunca vi, deve ser lá
da Portela!
Dou mais um gole na
saideira e despisto o povo com uma velha brincadeira, descontraindo o que se
sucedeu.
Dou uma boa gargalhada, e
encerro toda a conversa fiada perguntando: - Tem culpa eu?
Saio de fininho, viro à
direita rapidinho, e ao longe eu vejo uma doce criatura, que no portão de casa
sempre fica a me esperar.
Então pensei... Chegou ao
fim mais uma intrépida aventura! Enquanto a vizinhança ria e fofocava, minha
mãe gritava:
- O moleque safado, vem
logo deitar!
Um comentário:
Boa tarde, Heleno. Adorei. Que bom que era a sua mãe, pensei que você fosse levado e a mulher que te esperasse, a esposa.
Me surpreendeu positivamente o final.
Parabéns!
Gostou do resultado das escolas do Rio?
Beijos na alma e fique na paz!
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